BruxasDatas ComemorativasHalloweenIdade MédiaPatriotismoReligiosidadeRoda do AnoSabbatsSaciSenso ComumShamainWiccaXenofobismo
O dia das bruxas no país das mentiras.
O que há por trás do simbolismo do dia 31 de outubro que faz com que brasileiros fiquem ao pé de guerra com aqueles que querem festejar o Halloween? Vê-se uma comoção grande pelo dia ter se tornado, a partir de 2005, o dia do Saci Pererê. Justamente para fazer oposição ao festejo de fora do país, geralmente atribuído aos estadunidenses. Ledo engano, os primórdios das comemorações do dia 31 são muito mais antigos que se imagina o senso comum.
Provavelmente do festival do fim do verão dos povos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha. Embora existam muitos nomes, chamaremos aqui de Samhain (pronuncia-se Sou-ein). É basicamente uma festa de honra aos ancestrais, dar culto aos mortos. Nós temos o dia 2 de novembro como o dia de finados no Brasil e isto não é mera coincidência. Já na Idade Média e na “luta” para que a nova religião se estabelecesse, as datas simbólicas acabam por aderir uma conotação pagã. Fora o Papa Gregório IV, que decidiu universalizar o dia de todos os santos, 1º de novembro, finados 2 de novembro. Embora existam estudiosos que digam que as datas são premeditadas, certamente forjadas pela igreja, há aqueles que digam que as datas são referência simbólica própria, com interferência sim, de outras religiões, porém por ordem distinta. Deixando de lado esta briga interna, é certamente muito óbvio que as datas são estratégicas com as estações do ano.
Samhain ocorre no pico do
Outono. É o tempo do ano em que o frio cresce e a morte vaga pela Terra. O Sol
está enfraquecendo cada vez mais rapidamente, a sombra cresce e as folhas das
árvores estão caindo, numa preparação ao Inverno que chegará. Essa é a última
colheita, o tempo em que os antigos povos da Europa sacrificavam seus gados e
preservavam sua carne para o Inverno, pois esses animais não podiam sobreviver
em grande escala nesse período do ano devido ao frio vindouro. Só uma pequena
parte, os mais viris e fortes, era mantida para o ano seguinte.
Assim como foi estratégico
deixar que o nosso 31 de outubro fosse o dia de um do “nosso” folclore tomasse
conta. E o escolhido foi o mais famoso, claro. O guri de uma perna só, negro,
com cachimbo e um gorro vermelho: Saci Pererê. Mas de onde ele vem? A ideia
original certamente está perdida. Mas o que é fantástico no Saci é que ele é
tão mestiço quanto o povo brasileiro. Ele tem o gorro chamado píleo (sim, o
mesmo de duendes e também como se chama a parte de cima do cogumelo... e de
Odisseu, Robin Hood, etc, etc) que segundo a mitologia romana conferia poderes
ao íncubo e recompensas a quem o capturasse. O nosso também confere
poderes a quem o capture. Daí sua “descendência”
europeia, além do Trasgo português, que também usava este gorro. O provável é que a
associação do gorro tenha vindo justamente do trasgo português que do íncubo.
Então a cor de sua pele e o cachimbo seria sua “herança” africana. Além do fato
interessantíssimo dele ter perdido a perna lutando capoeira! Ê danado! Mas então...
Para os nativos, os donos da terra, os indígenas... Só sobra o resto... Digo...
O nome. O nome é oriundo do termo tupi
sa'si. "Matimpererê" é oriundo do termo tupi matintape're.
Mas então fica a pergunta: Por que o Brasil é um país de
mentiras? Pelo simples fato que os brasileiros são fruto da miscigenação de
povos. Ser xenófobo não adianta, afinal até mesmo o nosso folclore é cheio de
símbolos que não são exatamente brasileiros, embora tenham sido construídos e
constituídos aqui. Uma marca de carro não vai ser brasileira por ter montadoras
aqui, se bem entendem. É simplesmente absurdo pensar que não deveríamos comemorar
uma festa como o dia das bruxas por motivos ditos patrióticos, já que não
comemoramos o dia do saci. Por que não fazer a menção honrosa de ambos?
É muito claro que foi nos Estados Unidos que se tornou
popular a festa e a exportou, fazendo dela algo comercial e blá blá blá. Porém
até as ditas datas cristãs se tornaram comerciais. Nem por isso as pessoas
deixam de ser menos cristãs ou comer chocolate na páscoa, embora este seja um
exemplo hipotético. Pois as pessoas também matam e passam fome no natal. Seria
justo para com aquelas pessoas que festejam Samhain fazer esta terrível
exclusão? Ainda querem nos dias atuais queimar as bruxas, bem sabemos.
~ [OFF] Iria colocar a nossa Cuca no meio deste angu, mas
decidi deixar para uma próxima oportunidade, embora ela possa ser relacionada
também com o dia das bruxas, de certa forma. Se quiserem pesquisar, fiquem a
vontade. J
Referências:
- FERREIRA,
A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 534
- FERREIRA,
A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.1 103,1 104
- CASCUDO,
Luís da Câmara, Dicionário do Folclore Brasileiro, verbete Saci
- http://en.wikipedia.org/wiki/Trasgu
- Hutton, Ronald. The
Stations of the Sun: A History of the Ritual Year in Britain (Oxford:
Oxford University Press, 1996) p. 364
- http://en.wikipedia.org/wiki/Halloween
- PRIETO,
Claudiney. WICCA, a religião da
deusa.
0 Comentários